A ditadura militar acabou oficialmente em 1985 no Brasil. Nesse período, eram comuns práticas como a tortura e o abuso de poder por agentes do Estado. Nesses 23 anos decorridos, inúmeras instituições foram reformadas para que houvesse democracia.
No entanto, uma série de denúncias tem aparecido nos últimos tempos demonstrando que o espírito repressivo permanece em diversas instituições. É o caso de Marlene, camareira de 28 anos, que autorizou que Policiais Militares revistassem sua casa, em Manaus, e foi torturada depois que eles acharam um cigarro de maconha, um relógio, munições e um computador roubados. O PM, identificado como “zero um” a algemou, levou para o quarto, desferiu uma rodada de tapas em seu rosto, coronhadas na cabeça e chutes pelo corpo. Ele ainda colocou um saco ao redor de sua cabeça e disse: “não vai falar, vagabunda?”.
A Polícia Militar é a instituição identificada por movimentos de direitos humanos como a mais repressiva. Isso ficou mais claro a partir das mobilizações que acometeram o Brasil neste mês de junho. As PMs de diversos estados reprimiram de forma truculenta os manifestantes. Em SP, no dia 13 de junho, e no RJ, no dia 30 de junho, na final da Copa das confederações, ocorreram as chamadas prisões para averiguações, em função de protestantes portarem vinagre. Esse tipo de prisão era comumente constado na ditadura militar, quando pessoas eram presas sem nenhuma ordem judicial, apenas com a acusação de subversão.
Segundo o professor de direito penal da UFMG Túlio Viana, em aula pública ministrada essa semana no vão livre do MASP, esse comportamento repressivo tem apenas aparecido no discurso da imprensa nos últimos meses por conta das operações fracassadas da polícia. Nas periferias do Brasil, a polícia age normalmente dessa forma. “A violência praticada cotidianamente nas periferias apareceu na TV, só que agora, contra a classe média”, disse.
Em relatório elaborado em agosto de 2012, o Conselho de direitos humanos da ONU recomendou a extinção da Polícia Militar. Para Túlio, Polícias Militares devem existir apenas em função da defesa nacional contra inimigos externos e também defende a desmilitarização da polícia. “ A nossa polícia é um desvirtuamento, porque é urbana. Acabar com o militarismo é acabar com a estrutura e a lógica militar”, conclui.