quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Crise de representação política

Após a redemocratização do Brasil, com a eleição de Tancredo Neves e a posse de Sarney como primeiro presidente após a ditadura militar, seis presidentes dirigiram o Brasil. Em todos os governos, em maior ou em menor grau, muito ou pouco explorado pela mídia, houve escândalos de corrupção. Além do poder executivo, O Congresso Nacional e as Casas Legislativas dos estados estão desacreditadas pelo povo brasileiro. Desde compra de votos no Congresso, seja pra comprar re-eleição, seja para pagar mensalão, até a perpetuação de figuras arcaicas como símbolos do poder representativo, esvaem qualquer possibilidade de interesse da população pela vida política no país.

Um dos tópicos mais comentados quando se analisam os acontecimentos de junho é a crise de representatividade política. O rechaço aos partidos políticos nos atos dos dias 16, 19 e 22 de junho significa que o monopólio de representação, que antes estava nas mãos dos partidos institucionais, se dissolveu. Novos atores sociais emergiram, evidenciando uma insatisfação e um descrédito com essas instituições.

Os constantes escândalos de corrupção, envolvendo tanto partidos tradicionais, como o PSDB, como partidos com base popular, como o PT, fez com que a população e, principalmente a juventude, desacreditasse da classe política e das instituições que compõem o Estado de Direito. A ineficiência desses órgãos ao longo dos anos transbordou aos olhos dos jovens.

Um exemplo desse descrédito foi a tentativa de manifestantes de ocuparem o Congresso Nacional no protesto do dia 17 de junho. Alguns mascarados quebraram a fachada do símbolo do poder político brasileiro.
 Na esteira de junho, diversas Casas Legislativas foram ocupadas por manifestantes em diversos estados e municípios do Brasil.

A crise

 A crise de representatividade expressa uma crise social, pois os jovens não rejeitam apenas a forma política, representada pelos partidos políticos tradicionais, as instituições estabelecidas após a redemocratização, o poder judiciário, mas a política em si, o engajamento com causas sociais, a relação com a comunidade e suas implicâncias, o que a afasta das instâncias de poder.
 
Isso decorre do último período político de polarização entre duas forças (PT e PSDB) que, quando chegaram ao poder central, efetivaram o mesmo programa, com destaque para o descaso com os serviços públicos (educação, saúde, tranporte), inúmeras privatizações (tanto no Governo FHC, com a telefonia, a Vale do rio Doce, quanto no de Dilma, com as rodoviárias, os portos, o petróleo), e um fisiologismo, característico da governabilidade instaurada pelo PSDB e seguida pelo PT.
 
Segundo Guilherme Cavalcanti e Tieni Meninato ( o desinteresse do jovem pela políticatudo, a juventude, principal ator social das manifestações de junho, se desisteressa da política por muitos motivos, um deles é que,
 
"Existe a massificação da idéia de que os valores de alguém são expostos através do que ela pode ter e não mais de quem ela é. Ter é ser. Os grupos e tipos de pessoas são identificados pelo tipo de roupa que usam, pelos lugares que freqüentam, etc, todos aspectos dependentes do que a pessoa pode pagar. Não se associam mais por uma ideologia, até porque a ideologia atual está sempre vinculada a ser um individuo produtivo: este é o aspecto que liga aqueles que participam da sociedade". (pag 4)
A ideologia será tratada em diversas partes deste trabalho, mas aqui tem um papel fundamentam para compreender o desengajamento vigente. A ideologia dominante transforma as vontades das pessas. De fato, a ideologia hegemônica nem possibilita que a subjetividade se efetive, em função da construção de discursos pelas diversos aparelhos ideológicos (principalmente escola e mídia) que condicionam o modo como cada indivíduo se constitui. Os valores que essa juventude pós ditadura recebeu são caracterizados pelo individualismo resultantes da ausência de políticas públicas que proporcionassem uma participação dele com a comunidade. A juventude é destituída tanto de atividades culturais pela escola, como de uma pluralidades de realidades pela mídia. A industria cultural instiga todos a consumir. Mas não os possibilita acesso irrestrito a essa possibilidade.

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