quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Inspiração internacional

As manifestações de junho de 2013 no Brasil também devem ser entendidas em relação ao contexto internacional, de crise econômica e reações de setores da sociedade contra a retirada de direitos conquistados.
Nesse início de século XXI, muitos movimentos de orientação anticapitalsita pipocaram nas mais variadas partes do mundo. Somente no ano de 2011, diversos levantes ocorreram, desde o centro econômico do capitalismo mundial, os EUA, com o movimento Occupy Wall Street, passando pelo conservador mundo árabe, com a Primavera Árabe, até a Europa civilizada, com os indignados espanhóis e os gregos protestando contra os efeitos da crise.

No ano de 2013, um dos principais movimentos de contestação da globalização que surgiu foi na Turquia. A exemplo do Brasil, um motivo que, a primeira vista pareceria pequeno, foi o estopim para grandes mobilizações populares reivindicando mudanças estruturais. O palco foi a Praça Taskim, centro de reunião e acampamento da juventude, e objeto de desejo dos especuladores imobiliários. A praça estava sendo ameaçada de destruição para que se construísse um Shopping Center no local. Os protestos começaram com poucas pessoas mobilizadas pelas árvores. No entanto, a intransigência do poder público, em decisão parecida com a do governador e  do prefeito de São Paulo aqui no Brasil, fez com que outras demandas surgissem e o movimento cresceu em proporções gigantescas.

O fio-condutor anticapitalista é evidente em todas essas manifestações de descontentamento. O jargão dos jovens norte-americanos "somos 99% contra 1%" expressa a debilidade do sistema econômico em atender todas as demandas sociais, em oposição a enorme concentração de renda.
"Em tempos de crise, os candidatos óbvios a apertarem os cintos são as camadas mais baixas dos assalariados(...) Embora esses protestos sejam nominalmente dirigidos contra a lógica brutal do mercado, eles protestam contra a corrosão gradual dessa posição econômica". (zizek. o ano em que...pag 21 e 22)

Por isso, essa camada se organiza para que seus direitos não sejam ceifados pelos planos de austeridade dos técnicos dos Bancos Centrais, além de conquistar novos direitos, no caso brasileiro, a redução das tarifas do transporte público e, em seguida, seja posta em questão a possibilidade do passe-livre.

Todos esses movimentos, do Brasil a Turquia, do Egito a Grécia, revelam a ausência de mecanismos de participação efetiva da democracia e concretização de um projeto que satisfaça o anseio das pessoas. A voz dos jovens e dos trabalhadores não foram escutados pela classe política. E esses pagaram um preço alto. O primeiro ministro da Espanha caiu logo que o movimento avançou nas reivindicações. No Egito, a ditadura de décadas de Hosni Mubarak capitulou antes as mobilizações, e a situação, quase dois anos depois, ainda não se estabilizou. Na Itália, um governo de coalizão foi composto por técnicos como uma resposta para a falta de representatividade política. Na Grécia também permanece com uma situação política indefinida, com a crise avançando e causando desemprego e indignação.

Aqui no Brasil, as eleições de 2014 demonstrarão quem foi mais atingido pelos protestos. Nas pesquisas de opinião de junho, a popularidade na Presidenta, que meses antes rondava os 70%, caiu para cerca de 30%. A mesma coisa ocorre com governadores e prefeitos.

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